quarta-feira, 29 de abril de 2015

McGill: Teste de Nivelamento

Ontem fui fazer meu teste de nivelamento para o curso de inglês da McGill. Um amigo meu, que havia feito um teste de inglês para tentar fazer uma certificação lá (certificações são cursos pós-secundários que costumam durar um ano. São meio que especializações, mas nem tanto) falou que, quando ele fez, foi assim: primeiro, um teste de compreensão oral, no estilo de sempre, com gravações que contém informações que você precisa entender e marcar numa folha de papel; depois, uma entrevista de uns dez minutos, durante a qual a entrevistadora fez perguntas básicas para testar os tempos verbais (por exemplo, "me conte uma viagem da qual você gostou muito" pra testar o passado, ou "fale como você se vê daqui a cinco anos" para testar o futuro, e por aí vai); em seguida, um teste de compreensão escrita, com um texto e perguntas sobre ele e alternativas para você marcar; e, finalmente, um teste de expressão escrita, para escrever uma cartinha e coisas do tipo.





Não me pareceu muito complicado. Ainda assim, sei que compreensão oral pode ser o cão chupando manga com azeite de dendê porque vai depender do tipo de linguagem, se tem ruído de fundo ou não, o quão claramente as palavras são pronunciadas e outros quesitos. Sei também que expressão oral pode ser pior ainda, principalmente pra mim, que fico em estado catatônico toda vez que tenho que falar em outra língua com algum  nativo. E, como esse meu amigo ficou em dúvida sobre o resultado dele, achei por bem não desprezar o teste antes de fazê-lo.

Pois bem, o teste estava marcado para ontem às 10 da manhã. Eu tinha que chegar às 9 porque precisava levar minha confirmação de residência permanente e, com isso, assegurar que o preço cobrado seria o de cidadão canadense/residente permanente. Às dez para as oito eu estava entrando no prédio e pegando o elevador. Fui ouvindo BBC no iPod pelo caminho pra fazer o tímpano e o cérebro acordarem, mas, fora isso e a leitura diária de algumas páginas do livro que peguei na Grande Bibliothèque, não sentei pra estudar. Achei melhor ir dar a cara a tapa e ser colocado num nível mais condizente com o meu real nível de inglês do que fazer testes, simulados e tudo mais só pra "ir bem na prova".

Fiz o registro e apresentei a confirmação de residência permanente. A menininha simpática que me atendeu me fez preencher dois formulários e, no final, me entregou uma folha em que estava impressa o meu nome e continha orientações gerais sobre o teste e o curso. Tudo não durou nem dez minutos, e aí ela falou que eu podia ir passear até a hora da prova. Mal tinha dado nove horas, então lá fui eu pro lado de fora esperar. Queria encontrar alguém que fosse fazer o teste também pra trocar uma ideia e afiar a língua, mas, fora uma chinesa que fez cara de que não entendeu nem quando a atendente falou "good morning", não vi mais ninguém que eu pudesse aborrecer com a minha ansiedade. Troquei  mensagens com a minha família, e isso é legal porque, de alguma forma, dá a sensação de que eles estão sempre por perto.

Faltando quinze minutos, lá eu entrei no prédio de novo e fui pra sala indicada. Impressionante a organização: além de tudo no nome de cada estudante já estar separado na hora do registro, tomaram todo o cuidado de colocar plaquinhas pra todo lado indicando o caminho onde seria a prova. Foi fácil achar, até porque tinha uma filinha já na entrada. Um carinha simpático e um homem mais velho, com cara de professor, estavam fazendo a conferência cara-crachá de todo mundo. Eu assinei onde indicaram e fui pra dentro da sala.

A Prova Escrita

Pontualmente às 10:02 (é Canadá, gente, não Inglaterra), o diretor do curso entrou, deu as boas vindas a todo mundo e passou algumas explicações sobre como a coisa funciona. E aí vi que a prova ia ser beeeeem diferente da que o meu amigo tinha feito. Ele disse que a gente receberia uma folha com três questões e que poderíamos escrever o tanto que quiséssemos, mas sem exceder o número de linhas que estavam impressas para cada questão. Terminada essa parte, iríamos receber um cartãozinho colorido que indicaria a sala em que faríamos a entrevista. E só! Nada de texto, nada de gravação com estranhos na padaria discutindo o preço do bolinho ou coisa do tipo.

As questões eram bem basiconas: a primeira pedia para eu falar sobre mim e dizer quais eram meus planos para o futuro; a segunda pedia para eu falar dos aspectos positivos e negativos de uma viagem memorável; e a terceira queria que eu apontasse um problema que a sociedade moderna enfrenta e qual a minha opinião a respeito. Não contei, mas acho que cada questão tinha de 10 a 15 linhas para resposta. Convenhamos, não é muita coisa, né? Eu achei bem tranquilo, e isso me relaxou. Levei pouco menos de meia hora para terminar.

Quando saí, o carinha simpático me passou um cartão amarelo no qual estava escrito em que sala eu faria a prova. Ele me indicou o corredor certo e lá fui eu. Também não foi difícil achar porque já havia algumas pessoas esperando. O pessoal da prova separou três salas para a entrevista, e cada cidadão que terminava a parte escrita recebia um cartão de cor diferente (uma cor para cada sala), de modo que ficava tudo distribuído de maneira igual. Fiquei esperando do lado de fora, onde já tinha uma mulher que fez cara de poucos amigos quando me viu. Parei um pouco afastado e fiquei encostado na parede. Vai que morde, né?

A Prova Oral

Enquanto esperava (já tinha uma outra menina dentro da sala sendo avaliada), fiquei vendo o pessoal e notei uma coisa: tinha asiáticos de todas as cores e tamanhos. Sem dúvida alguma, foi o grupo mais bem representado ali. De um universo de umas 30 a 40 pessoas, contei só 6 que não tinham as feições asiáticas (eu faço parte dos 6). Logo o corredor virou um trailer da Torre de Babel, com o povo falando japonês, chinês e coreano, principalmente.

Quando a menina entrou, cronometrei e a entrevista dela durou perto de 20 minutos. Então já entrei tentando puxar umas histórias pra encher linguiça por esse tempo todo. Mas, claro, na hora é tudo  mais rápido do que a gente pensa, e as coisas acontecem sem a gente se dar conta. A entrevistadora pediu para eu sentar e pegou meu teste escrito. Só de ver as folhas, ela comentou: "nossa, você escreveu bastante!". Minha senhora, isso é porque a senhora não viu o que faço no blogue. Um post sobre comprar pão na padaria vira um tratado sobre a ação do fermento nas massas.

Então ela começou a ler as respostas na minha frente, o que me deixou um tanto constrangido. Tá, não escrevi nenhum segredo de família e nem falei de afrodisíacos, mas deu pra sacar que eu já ia ser avaliado ali, de cara, na dura, sem poder tomar um copo com água sequer! À medida que ela lia, acenava com a cabeça dando a entender que tinha gostado (mas eu fiquei em dúvida em alguns momentos), e, de vez em quando, ela pedia pra eu confirmar alguma informação que eu tinha escrito e dar mais detalhes. Ela passou relativamente rápido pelas duas primeiras questões (quis saber de onde eu vinha e se eu tinha largado tudo pra vir pro Canadá, vê se pode! E perguntou o que a minha família achava de tudo) e se deteve mais na última questão, sobre o problema social e a minha opinião. Eu não posso dizer que eu falei pra caramba porque não foi o caso. Eu conversei com a entrevistadora, no sentido de que eu falava, ela falava de volta e acrescentava um novo aspecto do quadro, daí eu comentava em cima daquilo, mas não houve uma sessão de perguntas e respostas como aparentemente aconteceu com o meu amigo. Aliás, ele disse que a entrevista dele foi gravada. Na minha, não teve isso.

O cronômetro estava batendo nos dez minutos quando ela pegou a folhinha de avaliação dela e falou algo na linha do seguinte: "Olha, eu não vou te segurar aqui mais tempo porque já ficou claro pra mim que você é um estudante avançado. Aliás, eu nem sei se você ainda precisa de inglês. Então, eu vou te recomendar pro nível avançado, que são só dois módulos e você escolhe a ordem em que quer fazer. Um é mais acadêmico, o outro é mais profissional, mas a ordem não importa, e você consegue o certificado depois de concluir esses módulos, o que deve ser bem rápido".

Silêncio.




Eu realmente fiquei sem ação. Eu não tava achando que ia pro nível do The book is on the table, mas realmente não achei que ia para o penúltimo nível do curso! Mas claro que adorei a notícia, não só pelo resultado em si (é ótimo ter um nativo elogiando o seu domínio do idioma, em qualquer situação), mas porque automaticamente me dei conta que ficarei menos pobre do que imaginava e ainda vou poder engatar o curso de francês do jeitinho que eu tava querendo!! E, para completar, como esse curso de francês provavelmente será à noite, poderei começar a procurar emprego enquanto pondero se volto ou não pra faculdade de uma vez!!!! Não é o máximo?? Vocês não acharam??? Eu achei!!

Saí de lá com o Tobey Maguire e Raindrops Keep Falling on my Head na cabeça. As aulas começam na próxima segunda, de manhã e à tarde. Tô torcendo muuuuito pro curso ser bom e vou fazer o possível pra tirar o máximo de proveito dele. Quem sabe assim destravo de vez?

À bientôt!




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