quinta-feira, 28 de maio de 2015

O Curso de Inglês da McGill - Parte II

No post anterior, falei um pouco do meu objetivo, das expectativas e das primeiras impressões em relação ao curso de inglês que estou fazendo na McGill. Agora, vamos chamar o Jack e destrinchar em partes minha avaliação após quase quatro semanas de curso.

Nível da turma

Se você leu os posts anteriores relacionados ao curso, sabe que fiquei super feliz (embora surpreso) quando fui classificado no nível avançado, não só por constatar que meu inglês talvez não estivesse tão ruim assim, como também pela economia que eu faria. Vim pra cá pensando que talvez precisasse cursar uns quatro níveis do programa da McGill, então economizar a grana de dois módulos realmente me aliviou financeiramente.

Quando comecei na turma, achei que seria um dos alunos com nível mais macarrônico. Afinal de contas, terminando esse curso você já cumpre o requisito de idioma para ingressar na graduação, mestrado ou doutorado na McGill. Então, poxa, o que você espera? Que o nível avançado seja fodasticamente difícil e que as pessoas ali recitem Shakespeare enquanto dormem, né?

Só que não é bem assim.

Eu comentei que meus colegas de turma vêm de várias partes do mundo. Então, é claro que todos têm sotaque (inclusive eu), uns mais fáceis de entender, outros mais difíceis. Se o problema fosse o sotaque, tudo bem. Mas gente... há pessoas na minha turma que mal conseguem terminar uma frase quando abrem a boca. Não são a maioria de forma alguma, mas existem essas pessoas. A grande parte da turma começa uma frase e tem de recomeçar porque não sabe concluir. Fazem vários errinhos de concordância, tempo verbal, uso de artigos e pronúncia. Na escrita, a coisa é pior: não só erros de ortografia, mas de coerência, lógica e estrutura. Ouvi a professora da tarde perguntar pra pelo menos dois alunos se eles não se sentiriam melhor num nível mais baixo. A resposta, claro, é não. Afinal de contas, se eles foram aprovados nos níveis anteriores, por que raios teriam de regredir, não é? No meu caso e no do quebeco, por exemplo, como é a nossa primeira sessão, poderia até ter havido um erro de avaliação. Afinal, os avaliadores são humanos e eles têm, basicamente, um texto de algumas linhas  e uma conversa de, em média, 10 minutos com o aluno. Então poderiam ter cometido um engano. Mas quando o aluno já faz aula na escola há um tempo, é passado adiante e chega no nível avançado sem conseguir se expressar... difícil não achar a avaliação dos professores em sala deixa a desejar.

Fora isso, a turma é show! Nunca me imaginei dando risada com um iraniano de 40 anos (a média de idade parece estar em algum lugar ali pelos 25, 26 anos, mas tem um punhado com mais de 30), apresentando trabalho com uma vietnamita, ouvindo um pouco de história do Oriente Médio por meio de uma libanesa ou sendo comido vivo com os olhos por uma equatoriana. E, com gente com nomes como Rola, Porras e Aladin (eu juro!!!), não tem como você não dar umas risadas.

Nível das Aulas

Contrariamente ao que se poderia esperar, dado o nível da turma, o das aulas é diferente. Dá pra dizer que o módulo avançado realmente tem conteúdo avançado. Embora os professores tenham excelente dicção e falem pausadamente (o que facilita a opinião de qualquer um), eles falam sem parar. Então, se a sua compreensão não é lá muito boa, você pode se perder ou deixar de notar alguns detalhes. Já teve gente que deixou de entregar tarefas e trabalhos porque entendeu mal as datas ou não tinha entendido que era pra imprimir levar fisicamente em vez de mandar por e-mail.

Da mesma forma, não deixam passar nada na escrita. Comeu uma letra, errou o tempo verbal, trocou ripe por rape (aconteceu! Eu juro, de novo!!), pimba! Vai ter pontinho descontado. Se vai apresentar um trabalho oral e fica claro que você não domina o assunto e tem dificuldade para se expressar com as suas palavras, toma mais desconto. Há leituras com nível acadêmico para serem feitas, e trabalhos em que a escrita acadêmica é exigida. Em suma, a turma, no geral, pode estar mais no nível intermediário, mas o conteúdo do módulo realmente está mais pra avançado.


Professores

Como falei no post anterior, tenho dois professores. O professor da manhã cuida mais da parte escrita, enquanto a da tarde foca mais na parte oral. 

Eu tenho sentimentos confiantes em relação ao professor da manhã. Achei ele um tanto perdido nos primeiros dias. Não perdido no sentido de não saber o conteúdo ou como usar o projetor, mas, sim, no sentido de já estar fazendo a mesma coisa há tanto tempo que ele esquece que, pra turma, muita coisa é novidade. Então foi bem comum vê-lo começando a falar de uma coisa como se a gente já soubesse, daí ele perceber que ninguém estava acompanhando o que ele estava dizendo e aí ele se dar conta que não tinha de fato explicado nada. Isso desapareceu na segunda semana, mas foi um tanto desestimulante.

Esse professor faz o tipo sério e rígido. Dificilmente faz alguma piada e está 100% do tempo focado no conteúdo que precisa passar e no desempenho dos alunos. Ele não tem medo de chamar a atenção de um aluno individualmente ou da turma como um todo. Semana passada, chegou a dizer na lata que ele via muitos alunos ali que não tinham nível para ir para a universidade, tanto pelo nível de inglês como pelo de responsabilidade. Por outro lado, ele está sempre disponível para ajudar. Se você manda um e-mail, em geral ele responde depois de algumas horas. Se você precisa discutir algo com ele, ele marca um horário na sala dele ou abre um espaço na agenda de forma que facilite a sua vida. Ele realmente se dispõe a ajudar, mas ele segue o que parece ser o estilo norte-americano de ensino: ele passa o básico, o aluno vai atrás do resto e, se tiver dúvida, volta ao professor. Não tem essa de ficar correndo atrás do aluno e dizendo o que ele precisa fazer.

A professora da tarde é mais light em certos aspectos. A aula dela é sempre mais informal, ela faz piadas, procura estimular todo mundo a falar levantando temas polêmicos ou simplesmente pedindo a opinião. Corrige pacientemente cada erro de pronúncia, encoraja os alunos a reformular as frases ou sugere alternativas, tudo de um jeito que não tem o peso da palavra "erro". Ainda assim, experimenta chegar atrasado(a) na aula dela ou deixar de entregar um trabalho no prazo! Toda a ternura de vovó que faz bolo de fubá desaparece, e a mulher consegue fazer você se sentir cocô de mosca só com um olhar e duas ou três palavras. É de dar pena de quem está nessa situação.

Em suma, os dois são bastante competentes e responsáveis, sabem bastante sobre a língua e também como transmitir. Com uma turma em nível adequado, com certeza poderiam fazer bem mais, mas aí já não é com eles.

Volume de trabalho

Todos os dias de todas as semanas têm atividades em sala e para fazer em casa. Podem ser exercícios de vocabulário, gramática, vídeos para assistir, transcrições para fazer, leituras para fazer, parágrafos para escrever... enfim, tem de tudo. Eles ocupam um bom tempo dos horários de aula e um bom número de horas depois (varia de acordo com o dia e a semana, mas eu diria que pelo menos duas depois do curso são necessárias todos os dias para fazer tudo).

Fora isso, toda semana tem, pelo menos, um "grande" trabalho para ser entregue, com regras, prazo, notas e o pacote todo. Na primeira semana, tive que assistir o vídeo de uma palestra gravada e fazer uma resenha crítica dela. Na segunda, pude escolher uma palestra e fiz o mesmo, mas, dessa vez, em sala de aula (a primeira, mandamos por e-mail). Além disso, tive que fazer uma apresentação oral de 15 minutos sobre um tema que eu quisesse (falei sobre o Brasil, mas NÃO, não falei de samba, praias, carnaval, futebol, nem bossa nova).

Ainda na segunda semana, tive que ler um artigo escolhido pela professora e explicá-lo a um grupo de pessoas. Essa atividade foi gravada com um aparelho para a professora poder escutar fora da aula (depois, os arquivos são disponibilizados no site da McGill para os alunos escutarem e perceberam os erros indicados na ficha de avaliação). Na terceira semana, tive uma atividade semelhante: tive que ouvir um programa de rádio (sem transcrição) e contar a outro grupo de pessoas do que se tratava, tudo com as minhas palavras, e dar a minha opinião no final (tudo gravado também).

Esta semana, tive as apresentações em grupo. A primeira foi uma explicação de uma seção de gramática da língua inglesa. Fiz essa apresentação com o quebeco. A segunda foi a apresentação de uma palestra que assistimos. Eu, o quebeco e o japonês da turma tivemos que resumir as informações e apresentar nossa opinião sobre o tema da palestra e a posição do palestrante. A terceira, que foi hoje, inclusive, dizia respeito a um estilo musical (de livre escolha) e sua relação com a sociedade. Fiz com o quebeco e a vietnamita da turma e, por milagre divino, nenhum dos dois é obcecado por música - assim como eu, pra falar a verdade. Eles deixaram pra eu escolher, e então, obviamente, puxei a sardinha para o meu lado: falamos sobre trilhas sonoras de filmes e video games! Não sei ainda a opinião da professora, mas eu adorei fazer esse!

Para a semana que vem, sei que terei que gravar um podcast, mas ainda não tenho detalhes. E, para a última semana, o projetão final: uma pesquisa séria, usando artigos acadêmicos como fonte, sobre um tema de livre escolha. O trabalho deve ser todo formatado com o padrão utilizado em boa parte das universidades da América do Norte, e tem todo um procedimento a ser seguido. O objetivo é familiarizar os alunos com o tipo de trabalho que eles vão encontrar na faculdade. Ainda na última semana, esse trabalho deve apresentado oralmente para os dois professores.

É, amigo, não tem the book is on the table por aqui não!

Instalações

A unidade da McGill onde os cursos são dados são realmente um primor. Projetores e sistema de som em todas as salas, aparelhos para uso de alunos e professores (como os gravadores), laptops, mesas e cadeiras confortáveis, climatização que não deixa você passar frio ou calor, microondas para você esquentar sua marmita... enfim, toda uma gama de comodidades para tornar a sua vida mais agradável, já que, fazendo esse curso, você passa boa parte do dia lá.

Fora isso, há laboratórios de línguas que fica à disposição dos alunos. Neles, além de praticar a pronúncia e treinar os ouvidos, você pode também fazer os trabalhos que são pedidos em sala. Todos os programas necessários estão lá, e o acesso à Internet é ilimitado. Há também uma "clínica" de pronúncia, destinada aos alunos que têm dificuldade para pronunciar certos sons, e um laboratório de texto, voltado para quem tem dificuldades para escrever. Para essas duas últimas, contudo, você precisa ser "recomendado" pelos professores (ou seja, se você é escalado para essas aulas, é porque o negócio tá ruim).

Como aluno do curso de inglês você também tem acesso à biblioteca da faculdade. Nem sei quantas tardes (e noites!) já passei lá desde que o curso começou! Eles te levam pra uma sessão de orientação, de forma que você aprenda como usar a biblioteca, o que precisa fazer para pegar um livro emprestado, como fazer uma pesquisa sobre determinado assunto e outras coisas. Além disso, você também tem acesso aos sistemas da universidade. Tudo é explicado na primeira semana e você sempre tem a quem perguntar, em caso de dúvidas.

E aí, tudo isso tá te servindo de alguma coisa?

Muito! Como falei no post anterior, eu me inscrevi no curso com o objetivo de me destravar, de ganhar mais confiança e não ter medo de falar com as pessoas inglês. Eu posso dizer honestamente que, ao final da primeira semana, eu já estava todo desbloqueado (sinal de que a trava é mais psicológica que linguística). No meu segundo dia, já criei coragem para ligar para o provedor de internet e contratar o serviço. Já fui parado não sei quantas vezes para dar informação na rua e, mesmo de supetão, consegui me expressar numa boa. Já bati papo com estranhos, fiz pedido em restaurante tailandês e telefonei para central de suporte técnico. Enfim, embora eu sempre vá ser um não-nativo e sempre vá esbarrar com palavras, expressões ou gírias que nunca vi antes, posso dizer que não senti nenhuma carência em relação ao inglês nas últimas 3-4 semanas. O que não quero que seja entendido como "estou me gabando" e, sim, como "que alívio que esse bloqueio sumiu".

Enfim, embora eu não possa falar sobre os outros níveis do curso de inglês da McGill, posso dizer agora que o avançado deles realmente dá pra ser encarado como avançado. O fato da minha turma, em média, estar no nível intermediário não chega a me atrapalhar, até porque alguns ali são, de fato, alunos avançados. Enfim, como em qualquer curso, há coisas boas e ruins, e aí acho que depende mais do objetivo de cada um saber se vale mais a pena fazer um curso assim.

Se alguém tiver dúvidas sobre esse curso, pode deixar nos comentários ou me mandar por e-mail.

À bientôt!

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