quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Certificado de Francês da Universidade de Montreal - Parte I

Como mencionei nas postagens anteriores, meu curso na Universidade de Montreal já começou. Estou fazendo o Certificat en Français Langue Seconde (que, a partir da sessão de inverno, ganhará um sobrenome: agora vai ser Certificat en Français Langue Seconde: Culture, Études et Travail). Terei que cumprir 30 créditos, atingir certos níveis e ter uma nota geral média pré-determinada para pode clamar o diploma no final.

Ou seja: agora é que o negócio ficou sério!

Diferente do curso de inglês da McGill (que eu fiz basicamente pra destravar a língua), o curso de francês é mais que necessário pra mim. Meu francês ainda é muito básico, na minha opinião, e, embora eu consiga me virar muito bem aqui usando esse basicão, não vai muito além disso: me virar. Eu sei que tem muita gente pra quem o importante é se comunicar, e eu concordo que, na maior parte dos casos, é isso mesmo. Se você for para o hospital porque está sentindo dor na lombar, o importante é dizer que dói, onde dói e o quanto dói. Se o complément object direct vai vir antes do primeiro verbo ou se ele vai alterar a grafia do segundo não tem a menor relevância quando você está tentando sentar como a véia d'A Praça é Nossa.  




Dito isso, eu, particularmente, acho que é importante falar certo. Ou, pelo menos, tentar o máximo possível. Acho que terei mais dificuldade para seguir determinadas profissões e assumir determinados cargos se o idioma não estiver bom. Querendo ou não, as pessoas julgam. Juntamente com a aparência física e a indumentária, acredito que o modo de falar e uso da linguagem estão no top 5 das coisas avaliadas inconscientemente por quem encontro por aí. E isso contribui para um conceito e avaliação prévios do que pode ser que você seja. Mas, se isso ainda não fosse razão pra mim, tem o simples fato de que eu quero realmente dominar o francês.

Só que, pra isso, vou ter que ralar. Acabou a moleza.

Teste de Nivelamento

Como em qualquer custo, tive que me submeter a um teste de nivelamento. Ele foi aplicado no final de agosto. Tive que ir em duas noites diferentes pra fazê-lo, já que, seguindo o que minha conselheira falou, optei por pegar uma disciplina de francês oral e outra de francês escrito, e não dá pra fazer mais de um teste por noite. A Faculté de l'Éducation Permanente, que é quem coordena o curso do certificado dentro da Universidade de Montreal, disponibiliza três noites para os testes. Então, se você não pode ir no primeiro dia, por exemplo, ainda tem duas chances.

Não tive que me inscrever ou coisa do tipo. No dia (ou melhor, na noite), simplesmente cheguei lá antes da hora e procurei a sala onde o teste seria aplicado. Eu também podia escolher entre o teste oral e o escrito. Como falar pra mim é sempre o pior em qualquer idioma (ansiedade, traumas de infância, etc, etc, etc), resolvi fazer logo esse. Na entrada da sala, passei por uma rápida identificação por documento (eu, todo feliz, mostrei a minha carteira da Assurance Maladie. Como é bom parecer cidadão!), me sentei e aguardei.

Uns quinze minutos depois do horário marcado, a coordenadora do curso foi para a frente da sala e passou algumas orientações. Deixou claro que não ficaríamos sabendo o resultado no dia, explicou algumas regras da universidade e pediu para que preenchêssemos um pequeno formulário e também indicássemos o nível de francês que acreditávamos ter naquele momento. Havia seis opções, a primeira sendo o nível mais baixo ("sei falar 'Bonjour' ou nem isso") e a sexta, o mais alto ("posso explicar a Teoria da Relatividade de um só fôlego com sotaque de Marselha"). Por muito pouco não marquei a segunda opção, que era algo do tipo "sei que existem COD e COI, mas não sei pra que servem", mas achei que estava pegando muito pesado comigo mesmo (o que acontece só de vez em sempre). Então marquei a opção três e rezei para que isso realmente não tivesse influência no teste.

Terminada essa parte, formamos uma fila para receber um número de sala, sala essa na qual faríamos a prova que era "só" uma entrevista com um avaliador. Depois que peguei minha ficha com o número, fui procurar a sala e, claro, já havia uma outra fila enorme lá. Pelo que entendi, dividiram as pessoas em oito salas, e os avaliadores tinham níveis também: alguns estavam mais acostumados a trabalhar com alunos iniciantes, outros com alunos intermediários e outros ainda com alunos avançados. Calculei que a minha sala teria, então, um avaliador "intermediário", já que eu tinha marcado a opção correspondente. Se acertei ou não no meu cálculo, provavelmente nunca saberei.

Esperei, esperei e esperei. Quando finalmente chegou minha vez, a entrevistadora pediu para eu ajudá-la a passar umas cadeiras para pessoas que ainda estavam aguardando do lado de fora e já começou a perguntar meu nome, de onde eu vinha e o que eu fazia. Fui respondendo enquanto passava as cadeiras e, entre fechar a porta e me sentar, terminei de responder as perguntas de que lembrava. Surpreendentemente, a frase seguinte dela foi:

—Mas você tem uma pronúncia ótima! Você estudou na Aliança Francesa?

Fiquei em choque e travei. Daí lembrei de agradecer. E só então expliquei que havia estudado lá, sim, mas que havia pego a base numa outra escola, chamada IFESP, em São Paulo. Ela parabenizou de novo e veio com outras perguntas: há quanto tempo eu estava em Montreal, quais eram os meus planos, se eu queria fazer um curso superior na Universidade de Montreal... pediu pra eu comparar Brasília e Montreal, pra eu relatar como foi a minha chegada aqui, o que fiz no primeiro diz, como me senti, o que espero do curso. Enfim, as perguntas eram todas feitas de forma casual, mas, claro, visando ver até onde eu conseguia ir. Eu acho que comecei até bem, mas acho que dei muita importância pro elogio que ela fez no início e acabei me desconcentrando. Daí todas as minhas falhas e inseguranças em relação ao idioma apareceram. Tanto que, após o elogio, ela olhava pra mim com cara e sorriso de quem estava se encontrando com o Dalai Lama; mas, no final, a cara dela era de alguém que tinha visto alguma cena com o cigano Igor.


Ela terminou dizendo que já tinha tudo de que precisava e que eu saberia o resultado no primeiro dia de aulas. Falou pra eu chegar mais cedo porque pode ser meio complicado encontrar a sala, principalmente pra quem está estudando na universidade pela primeira vez. Agradeci e fui embora, com a sensação de que tinha tomado 7 a 1 da Alemanha.

No caminho, pensei melhor e achei que tinha sido uma coisa boa: melhor ficar num nível mais baixo e poder começar o meu percurso revisando conceitos básicos e ir incorporando-os gradualmente ao meu dia a dia do que ser colocado em um nível avançado e depois ficar uga-bugando dentro da sala. Esse pensamento me deixou em paz.

No dia (ou noite) seguinte, lá tomei o caminho da roça de novo para a universidade, desta vez para fazer o teste escrito. Nesse dia, mudaram de última hora o local do teste e lá fui eu procurar um daqueles pavilhões perdidos no campus. Levei uns 10 ou 15 minutos para achar o pavilhão e a sala, mas depois foi tranquilo. Não houve identificação no início: cada um que chegava era solicitado a sentar em uma das mesas que tinham papéis. Uma meia hora depois do horário marcado (provavelmente por causa da mudança de local), a responsável pela prova explicou as regras e o teste, de forma bem parecida com o dia anterior. Basicamente, era só uma redação, cujo tema estaria no alto da página com um pequeno parágrafo para nos dar uma direção. Eu achei que haveria uma parte gramatical mais específica, mas não. Enfim, a redação era sobre tecnologia e, pra mim, foi bem mais tranquilo. Sem a trava de ter que falar, escrevi de forma tão fluida que até me espantei. No final, quando entreguei o teste, fiz a identificação e, de novo, fui informado de que o resultado estaria disponível no primeiro dia de aulas, num listão que colariam na parede.

E foi isso, pelo menos de início. Dali, eu teria que esperar quase duas semanas até o início das aulas. A de francês escrito começaria no dia 08 de setembro e a de francês oral, no dia 14. Estava curioso a respeito do resultado do teste, claro, mas, como não tinha o que fazer, só me restava curtir as últimas semanas de "férias".

No próximo post, falo da aula de francês escrito.

À bientôt!

Clique aqui para ler a parte II!

4 comentários:

  1. Olá, descobri seu blog quando pesquisava sobre a McGill, pretendia fazer um mestrado lá, mas ja mudei de ideia. E agora sempre volto para ver as novas postagens, adoro o jeito detalhado como você nos conta tudo. Sou de São Paulo e estou estudando no IFESP e achei legal saber que você também estudou lá, não é uma escola muito conhecida. Enfim, passei só pra deixar registrado que gosto do blog. Abraços

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    1. Oi, elca, obrigado pelo comentário! Que legal saber que você continua lendo mesmo depois de mudar os planos (aliás, boa sorte com os novos!). Eu gostei muito do IFESP, sempre recomendava pra todo mundo que me pedia indicação de escola de francês. Só saí de lá porque era muito contra-mão pra mim na época. Mas fiz três níveis lá, e não tive ensino igual em nenhuma outra escola que frequentei, exceção feita a um módulo intensivo que cursei na Aliança Francesa.

      Espero que continue passando por aqui e deixando seu comentário registrado mais vezes. Abraço!

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  2. Mas e o resultado, homi?

    Me largou aqui curioso pra saber em que nível ficou rs..

    Você não chegou a fazer a francisação, né? Ela não teria te ajudado a ficar num nível mais avançado na UMontreal? Esse curso da UMontreal é pago (se sim, poderia compartilhar um pouco destas informações conosco?

    Grande abraço!

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    1. Faz parte do drama, Filipe!! :D

      Olha, eu pensei várias vezes em tentar a francisação. Mas, primeiro, eu escutei de várias pessoas que ela é muito básica (embora, com a minha ansiedade, isso talvez fosse positivo) e, segundo, outras várias pessoas que fizeram ou estão fazendo tiveram péssimas experiências. Professor que não aparece, que vai e fica mais fora da sala no celular do que dando aula, aluno dando aula no lugar de professor, aulas que deveriam durar 3 horas durando 1, 1 e meia... Eu fiquei desmotivado. Ainda não descartei tentar a francisação como apoio ao curso que estou fazendo, mas não penso mais nele como primeira opção, não. Inclusive, talvez eu tente a próxima sessão para tentar ter contato diário com o francês, já que as aulas na UdeM não são todos os dias. Mas vamos ver.

      Sim, o curso que estou fazendo é pago. Cada crédito custa aproximadamente 75 dólares, e o tanto que você vai pagar por sessão depende de quantos créditos você pegar (o mínimo são 3, que é uma matéria). Há outras taxas além do preço do crédito, mas você pode optar por não pagar a maior parte delas. Ah, dá pra pedir bolsa também :)

      Quando você chega?
      Abraço!

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